Para bem conhecer uma coisa é preciso tudo ver, tudo aprofundar, comparar todas as opiniões, ouvir os prós e os contras. (Allan Kardec - setembro de 1866.)
Em todos os tempos, homens houve que exploraram, em proveito de suas ambições, de seus interesses e do seu anseio de dominação, certos conhecimentos que possuíam, a fim de alcançarem o prestígio de um pseudopoder sobre-humano.
São esses os falsos Cristos e falsos profetas. Deus sempre advertiu os seus servos, com relação a falsificação dos profetas, profecias e ensinamentos.
Atribui-se comumente aos profetas o dom de adivinhar o futuro, de sorte que as palavras profecia e predição se tornaram sinônimas.
Falsos mestres, ensinamentos, profetas e profecias têm o propósito de confundir e destruir os incautos do plano superior.
Exortar, consolar e edificar A busca por profecia e revelações, para as respostas dos problemas pessoais é uma realidade em nossos dias, porem o propósito da profecia é exortar, consolar e edificar.
Cabe a nós recolhermo-nos ao interior da própria consciência para decidir com seriedade, critério, sabedoria, discernimento, imparcialidade para então aceitar os profetas e profecias.
Diz-se que todo enviado de Deus tem a missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Portanto, pode um homem ser profeta, sem fazer predições.
Julgando o falso profeta pelos frutos.
A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má [...]. (S. LUCAS, cap. VI, vv. 43 a 45.)
Que frutos são esses?
O verdadeiro profeta se reconhece pelos mais sérios caracteres e virtudes exclusivamente morais, ou seja, seu caráter, seu estilo de vida, o teor da sua mensagem, suas amizades, o que ele defende, seus ensinamentos etc..
É assim que deve julgar e são as obras que deve examinar. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os atos, pode então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.
Observe-os, indague-lhes sobre as idéias e os atos e reconhecerá que, acima de tudo, lhes faltam as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, sobrepujando as que o Cristo não tinha: a cupidez e o orgulho.
Lembre-se de que cada criatura traz na fronte e, principalmente nos atos, o cunho da sua grandeza ou da sua inferioridade.
Jesus assim falou... Os falsos profetas infiltram-se em nosso meio: · "... eles são o joio que deve ser separado do trigo no fim da colheita..." Mt 13.30. · Têm aparência de piedade – 2 Tm 3.5 · São lobos vestidos de ovelhas – Mt 7.15 · São mestres e doutores (inteligentes, cultos, influentes) – 2 Pe 2.1
Por baixo dessa bela aparência são: ".... amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes deve se afastar." 2 Tm 3.2-5.
Os falsos mestres ensinam o que as pessoas querem ouvir (1 Rs 22.12-14).
O verdadeiro mestre fala o que o povo precisa ouvir, se preocupando com a vida espiritual das ovelhas e com a verdade bíblica (Hb 12.4-13).
Falsos profetas na Erraticidade
O Espiritismo revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados: a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes venerados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das idéias mais singulares e absurdas.
Em geral, desconfie das comunicações que trazem um caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem cerimônias e atos extravagantes. Há sempre, nesses casos, motivo legítimo de suspeição.
Esteja certo de que quando uma verdade tem de ser revelada aos homens é comunicada instantaneamente a todos os grupos sérios, que dispõem de médiuns também sérios.
Escute os sábios conselhos do apóstolo S. João, quando diz: "Não acredite em todo Espírito; experimente sempre se são Espíritos de Deus", porque, entre os invisíveis, também há os que iludem, se lhes depara a ocasião.
Os iludidos são os médiuns que se não previnem o bastante. É uma prova de que só com muita prudência se pode triunfar. Aprenda, antes de tudo, a distinguir os bons e os maus Espíritos, para não se tornar um falso profeta. Luoz, Espírito Protetor. (Carlsruhe, 1861.)
As recomendações abaixo, são prescritas por vasta bibliografia de livros espíritas e pela federação espíritas. Citamos alguns cuidados para que o evangelho segundo o espiritismo seja conduzido em seu lar.
O Evangelho no Lar é antes de tudo uma reunião de Espíritos reencarnados no mesmo ambiente, buscando através da prece, da elevação de pensamentos e do diálogo fraterno, o amparo e o auxílio do Mais Alto para suas aflições e necessidades.
No Evangelho busca-se a aquisição de valores maiores, tais como a benevolência e a caridade, a compreensão e a humildade.
Cuidados: 1) Esclarecer, primeiramente, os objetivos do culto, os cuidados a serem tomados especialmente com a constância, dia e horário, apoio espiritual, uso da água fluidificada, do passe e obras a serem utilizadas.·
2) A finalidade básica é o estudo do Evangelho de Jesus, para o aprendizado Cristão, a fim de que seus participantes melhor se conduzam na jornada terrena.
3) Não deve ser jamais solene ou ritualístico, com palavras e movimentos decorados.
4) O dia da semana e o horário de realização do Evangelho no Lar são importantes que sejam respeitados. Assiduidade e pontualidade são importantes para o bom contato com o Plano Espiritual.
5) Não transferir ou suspender a reunião em virtude de visita inesperada, hóspedes (podendo-se convidá-los a participar da reunião), compromissos de última hora, etc....·
6) No criar polêmicas, acusações ou desvio para outros assuntos. Deve-se evitar comparações ou comentários que desmereçam pessoas ou religiões.
7) Acautelar-se para não transformar a reunião em trabalho mediúnico. Embora a assistência do Plano Espiritual seja indispensável para o andamento normal do Evangelho no Lar, Mediunidade e a Assistência Espiritual devem, sempre que possível, ser praticadas em Centros Espíritas.
8) Os casos de mediunidade indisciplinada devem ser encaminhados a uma sociedade espírita idônea.·
9) Presença de criança no Culto: nesses casos, os adultos descerão os comentários ao nível de entendimento delas.·
10) A aplicação do passe estará condicionada à impossibilidade do paciente se deslocar até casa espírita, a uma necessidade premente e haver na equipe a presença de um passista.
Quando orar, não seja como os hipócritas que oram de pé para serem vistos pelos homens. Quando quiser orar, entre em seu quarto e feche a porta, ore em secreto que o Pai lhe dará a recompensa. Não peça muito em suas preces. O Pai sabe de suas necessidades, antes mesmo que lhe peça. (baseado em MATEUS, cap. VI, vv., 5 a 8.)
Quando orar, se tiver qualquer coisa contra alguém, perdoe a fim de que o Pai, também perdoe os seus pecados. (S. MARCOS, cap. XI, vv. 25 e 26.)
Lembremos a passagem do Pai Nosso – a oração que Deus nos ensinou... [...] Perdoe os nossos pecados assim como perdoamos nossos devedores [...]
Comentários: · Somos perdoados na mesma proporção que perdoamos. · Não é pela multiplicidade das palavras que somos escutados, mas pela sinceridade delas.
Eficácia da prece Seja o que pedir em suas preces, creia que será concedido. Um pai criterioso não recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses. Porém, o homem, sendo livre para agir, seus atos lhe acarretam conseqüências subordinadas ao que ele faz ou deixa de fazer. O que Deus lhe concederá é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos. Não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Não creia que seja socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço.
Exemplo. Um homem se acha perdido no deserto. A sede o martiriza horrivelmente. Desfalecido, cai por terra. Pede a Deus que o assista, e espera. Nenhum anjo lhe virá dar de beber. Contudo, um bom Espírito lhe sugere a idéia de levantar-se e tomar um dos caminhos que tem diante de si. Por um movimento maquinal, reunindo todas as forças que lhe restam, ele se ergue, caminha e descobre ao longe um regato. Ganha coragem e segue para matar sua sede.
Se tem fé, exclamará: "Obrigado, meu Deus, pela idéia que me inspiraste e pela força que me deste."
Se lhe falta a fé, exclamará: "Que boa idéia tive! Que sorte a minha ter tomado o caminho da direita, em vez do da esquerda; o acaso, às vezes, nos serve admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me ter deixado abater!"
Responda então estas perguntas: Por que o bom Espírito não lhe disse claramente: "Segue este caminho, que encontrará o que necessita"? Por que não o guiou e o sustentou no seu desfalecimento?
Comentários: Dessa maneira, tê-lo-ia convencido da intervenção da Providência. É necessário ensinar que cada um deve ajudar-se a si mesmo e fazer uso das suas próprias forças. Deus põe a prova a confiança que nele deposita e a submissão desta à sua vontade. É como aquela criança, que cai e, diante de pessoas, põe-se a gritar e fica à espera de que alguém lhe venha levantar. Se não vê pessoa alguma, faz esforços e se ergue sozinha.
Veja vídeo : Pegadas na areia
Pegadas na Areia (Pe. Antônio Maria) Os caminhos de nosso Senhor Só quem ama percorreu Só quem sonha conheceu São caminhos cheios de amor Que nem sempre o sonhador É capaz de entender Alguém me disse que sonhou Que estava numa praia caminhando com Jesus E olhando o céu viu sua vida Tanta estrada percorrida Sempre em busca de uma luz E olhando as marcas na areia Viu ao lado dos seus passos as pegadas de Jesus
(Refrão): E aí ele falou: - Não te entendo, meu Senhor! E olhou pro chão - Nos caminhos mais difíceis, eu não vejo as tuas marcas Por que me deixaste só? Jesus respondeu: - Os passos são só meus, jamais te abandonei É que nos momentos mais difíceis de viver Nos meus braços te levei
A parábola do casulo e da borboleta Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais. Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observá-la, porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo pelo qual Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de forma que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.
Comentários: Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida. Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar. Eu pedi forças...e Deus deu-me dificuldades para fazer-me forte. Eu pedi sabedoria... e Deus deu-me problemas para resolver. Eu pedi prosperidade... e Deus deu-me cérebro e músculos para trabalhar. Eu pedi coragem...e Deus deu-me obstáculos para superar. Eu pedi amor...e Deus deu-me pessoas com problemas para ajudar. Eu pedi favores...e Deus deu-me oportunidades. Eu não recebi nada do que pedi...mas eu recebi tudo de que precisava.
Prece – uma transmissão do pensamento - Estudo 2
A prece é uma invocação pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Através do pensamento (para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa) estabelece-se uma corrente fluídica entre um e outro. Como o ar transmite o som, a corrente fluídica transmite o pensamento. É assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe idéias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a voltar ao caminho reto, se deste se afastou. Pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas.
Por exemplo: Quando um homem, vê arruinada a sua saúde em consequência de excessos a que se entregou, e arrasta uma vida inteira de sofrimento, ele tem o direito de queixar-se quando não obtiver a cura que deseja? Resposta: Não, pois poderia encontrar na prece a força de resistir às tentações.
Comentários: Fica evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, das quais seria poupado, se sempre vivesse com sabedoria e prudência. Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus. · Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; · Se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda; · Se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; · Se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; · Se mal a ninguém fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc.
"O homem sofre sempre a conseqüência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que fique sem a correspondente punição.
"A severidade do castigo é proporcionada à gravidade da falta.
"Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno a senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento.
"Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito.
"O homem é, assim, constantemente, o árbitro de sua própria sorte; pertence-lhe abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem."
Lei imutável e em conformidade com a bondade e a justiça de Deus.
A ação da prece tem por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos. O que bons Espíritos fazem não é afastar de nós o mal, mas sim, desviar-nos dos maus pensamentos que nos pode causar dano. Eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio. O homem se coloca na posição de solicitar bons conselhos. Colocá-los em prática, segui-los, ou não é uma questão de livre arbítrio. É isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se pedir com fervor: "Peça que obterá."
Do coração do egoísta, daquele que apenas de lábios ora, unicamente saem palavras, nunca os ímpetos de caridade que dão à prece todo o seu poder. O homem que não se considere suficientemente bom, não deve por isso abster-se de orar a bem de outrem, com a idéia de que não é digno de ser escutado. A consciência da sua inferioridade constitui uma prova de humildade, grata sempre a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Repelida será a prece do orgulhoso que deposita fé no seu poder e nos seus merecimentos e acredita ser possível sobrepor-se à vontade do Eterno.
Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo. É como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Entretanto, o que importa se um grande o número de pessoas estão reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria?! Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma mesma aspiração, orarão com mais força. Deus vê o que se passa no fundo dos corações; lê o pensamento e percebe a sinceridade. A prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes. A prece reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. E nesse sentido que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos.
Quase todos oramos, mas poucos são os que sabem orar! A prece deve conter o pedido das graças de que necessita. Peça que lhe conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Deve-se orar incessantemente, sem precisar se recolher em seu oratório, ou se lançar de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles. · Não é ato de amor a Deus assistir os irmãos necessitados moral ou físicamente? · Não é ato de reconhecimento, elevar o pensamento a Deus, quando uma felicidade nos advém, quando um acidente é evitado, quando mesmo uma simples contrariedade apenas nos roça a alma, desde que não nos esqueçamos de exclamar: Bendito seja, meu Pai?! · Não é ato de contrição nos humilharmos diante do supremo Juiz, quando sentimos que falimos, ainda que somente por um pensamento fugaz?
Então dizemos: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei (por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta.
É certo que um só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo Pai celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa determinante e às quais apenas saem maquinalmente.
Quando André Luiz desencarnou perdeu totalmente a noção do tempo. Sentiu-se amargurado. Ouvia gargalhadas sinistras, muita escuridão, dormia pouco e sentia muito medo. Percebeu que tudo que ele valorizava na terra: princípios filosóficos, políticos e científicos eram secundários para a vida humana. Verificou que havia algo acima do meramente intelectual. “Esse algo é a fé”. Percebeu tarde. Quando encarnado a filosofia do imediatismo absorveu. (Tudo foi fácil para ele). Conquistou títulos universitários sem sacrifícios, compartilhou os vícios da mocidade, conseguirá filhos, perseguiu situações estáveis, que garantissem tranqüilidade econômica a seu grupo familiar. Não fora um criminoso no próprio conceito, mas se deliciou com as alegrias (os júbilos) familiares, esquecendo de estender essa benção divina à imensa família humana. No desencarne não suportava o clima das realidades eternas. Com a silenciosa acusação da consciência fazia experimentar a noção de tempo perdido.
Reflexão ”Oh! Amigos da terra! Quanto de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração?
Acendei vossas luzes antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.
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2º Capítulo - Clarêncio
André Luiz escutava:”Suicida! Suicida! Criminoso! Infame! “. Ouvia gargalhadas. Às vezes enxergava de relance vultos negros, escorregadios nas trevas, quando o desespero atingia o auge, atacava-os, mobilizando extremas energias. Sentia fome, sede, sua barba cresceu a roupa começou a romper com os esforços da resistência na região desconhecida. O mais doloroso não era o terrível abandono que sentia, mas o assédio de forças perversas, aquelas vozes perturbavam o coração. Infeliz sim, mas suicida? Nunca! (Ele não entendia). Recordava que havia deixado o corpo físico a contragosto, lembrava dos últimos pareceres médicos, da assistência recebida, dos curativos dolorosos que seguiram à delicada operação dos intestinos, a última cena que precedeu o grande sono: a esposa ainda jovem e os três filhos. E depois o despertar na paisagem úmida e escura e a grande caminhada que parecia sem fim. Começou a se entregar ao desânimo e chorava muito por ignorar o próprio fim. Consciente, continuava a ser ele mesmo, com o sentimento e a cultura adquiridos na vida material, continuava com as necessidades fisiológicas, às vezes deparava com verduras que lhe pareciam agrestes em torno de humildes filetes d’água. Devorava as folhas desconhecidas e colava os lábios à nascente turva, chegou a sugar a lama da estrada, não raro passavam manadas de seres animalescos. Foi aí que começou a recordar que deveria existir um autor da vida, essa idéia confortou. Ele que detestara as religiões no mundo, agora necessitava de conforto místico. E quando as energias faltaram de tudo, pediu ao Supremo autor da natureza que estendesse mãos paternais. A chuva de lágrimas lavou o rosto, e todos os sentimentos se concentraram em prece dolorosa.
A pergunta: Por que não me perdoaria, o Eterno Pai, ele providenciava ninho as aves inconscientes e protegia , bondoso, as flores dos campos agrestes. Era preciso sofrer muito para entender as belezas da oração, era necessário haver conhecido o remorso, a humilhação. Foi nesse instante que surgiu um emissário dos Céus (um velhinho simpático) e falou: - Coragem meu filho! O senhor não te desampara. Ele perguntou: - Quem sois, generoso emissário de Deus? E o benfeitor disse, que era Clarêncio, apenas seu irmão. Pediu que ficasse calmo e silencioso para descansar e reaver as energias. Chamou dois amigos para prestar os socorros emergenciais. Alvo lençol foi estendido, uma maca improvisada. Clarêncio meditou e foram para o Nosso Lar.
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3º Capítulo: A oração coletiva
André Luiz foi resgatado do Umbral, transportado à maneira de ferido comum.
Chegaram em frente a uma grande porta em meio a altos muros, cobertos de trepadeiras floridas. Clarêncio tateou um ponto da muralha e fez-se larga abertura, branda claridade inundava ali todas as coisas, conforme avançavam André identificava preciosas construções situadas em extensos jardins. Foi acolhido em um edifício que parecia um grande hospital terreno e conduzido por dois jovens a um leito de emergência em um aposento amplo e ricamente mobiliado. Foi explicado, que estavam nas esferas espirituais vizinhas a terra e o Sol que iluminava era o mesmo que vivificava o corpo físico. Serviram um caldo reconfortante, seguido de água fresca que pareceu portadora de fluídos divinos. Divina melodia penetrou o quarto, o enfermeiro esclareceu: que era o crepúsculo em “Nosso Lar”, onde todos os núcleos da colônia, consagrada ao Cristo, se ligariam com as preces da Governadoria. André quis acompanhar o enfermeiro na oração. Aquela melodia renovava as energias, levantou-se vencendo as dificuldades e agarrou ao braço fraternal, caminhando ao enorme salão, onde numerosa Assembléia meditava em silêncio. Com processos adiantados de televisão, surgiu o cenário de templo maravilhoso, sentado em lugar de destaque um ancião coroado de luz fixava o alto em atitude de prece, em plano inferior, setenta e duas figuras pareciam acompanhá-lo em respeitoso silêncio, Clarêncio era um dos que cercavam o velhinho. Todas as residências e instituições de Nosso Lar estavam orando com o Governador, através da audição e visão a distância. Após a oração voltou ao aposento amparado pelo amigo que lhe atendia, mas não era mais aquele doente grave de horas antes. Depois de anos de sofrimento, surgiu a esperança em seu coração.